Glossário LITDIGBR

Gêneros de literatura digital

Os gêneros de literatura digital revelam a fusão entre tradição literária e inovação tecnológica, adaptando convenções e formas de expressão às dinâmicas das culturas digitais. Entre continuidade e ruptura, essas práticas literárias reconfiguram expectativas estéticas e destacam a influência dos meios e dispositivos nas experiências de leitura e de criação.

Vinícius Carvalho Pereira

Partindo de uma perspectiva de que os gêneros literários, tais quais os gêneros discursivos em sentido mais amplo, não são estruturas fixas, mas sim processos históricos e dinâmicos que evoluem conforme as mudanças sociais e culturais, também no campo da literatura digital podemos observar a presença de gêneros literários. E, se um gênero se define como um conjunto de convenções, no caso da literatura digital trata-se de convenções tanto linguístico-textuais (de forma composicional, conteúdo temático e estilo, segundo Mikhail Bakhtin) quanto de linguagem das novas mídias (em termos de procedimentos algorítmicos, estruturas de bases de dados e design de interface, conforme Lev Manovich).

Alguns gêneros de literatura digital mantêm claras relações de continuidade com a série literária impressa, como na poesia hipermídia brasileira em Flash e seus óbvios antecedentes na poesia concreta do século XX, ao passo que outros gêneros digitais, como as visual novels e os memes, dialogam mais de perto com elementos da cultura pop na internet. De modo geral, porém, pode-se afirmar que os gêneros de literatura digital se transformam à medida que vão mudando as práticas de escrita, leitura e compartilhamento nas culturas digitais, sofrendo ainda a influência do desenvolvimento tecnológico e da adoção de novos dispositivos, sistemas ou redes pelos diferentes agentes desse polissistema. A premência de fatores técnicos na formação dos gêneros de literatura digital é tão significativa que alguns passam a ser nomeados com referência à plataforma em que são produzidos, circulados ou consumidos, como na instapoesia (ou poesia no Instagram) e dos tuiteromances (ou romances no Twitter/X). De modo análogo, outros gêneros são nomeados por alusão a recursos digitais de maior destaque na experiência estética do leitor, como a poesia generativa ou a ficção hipertextual.

O furor taxonômico de algumas correntes críticas do século XX, em detrimento de análises mais sistêmicas e/ou atentas às particularidades estéticas das obras, levou a certo descrédito a teoria dos gêneros literários, sobretudo quando entendida como um conjunto de prescrições formais. No entanto, em um campo ainda em formação, como o da literatura digital, os construtos teóricos de gêneros literários podem auxiliar na formação de leitores e mesmo de pesquisadores e artistas criadores. Isso se dá porque, em consonância com Hans Robert Jauss e a escola da Estética da Recepção, gêneros definem horizontes de expectativa e fornecem condições mínimas para que uma obra seja interpretada a partir de hipóteses formuladas com base nas convenções de gênero. Sob tal perspectiva, esta seção do Glossário LitDigBr congrega verbetes de variados gêneros de literatura digital, desde os mais canônicos e associados a criadores pioneiros do campo, até os mais massivos e consumidos de modo inespecífico, como “produção de conteúdo” para redes sociais.

COMO CITAR ESTE VERBETE: 

PEREIRA, Vinícius Carvalho. Gêneros de literatura digital. In: CATRÓPA, Andrea; PEREIRA, Vinícius Carvalho; ROCHA, Rejane (orgs.). Glossário – LITDIGBR – Literatura Digital Brasileira. 2025. Disponível em: https://glossariolitdigbr.com.br/03-generos-de-literatura-digital/. Acesso em: dia/mês/ano.

Poemas de brinquedo, de Álvaro Andrade Garcia.

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