Glossário LITDIGBR

Literatura digital/eletrônica

Andréa Catropa, Vinícius Carvalho Pereira e Rejane Rocha 

A literatura digital/eletrônica envolve experimentação com programação e meios digitais, criando textos não lineares e multimídia. Nos EUA, usa-se “literatura eletrônica”; no Brasil, “literatura digital”. A definição é debatida, especialmente em países com acesso desigual à tecnologia, onde novas produções, não pautadas na experimentação com o código, exigem revisão constante das terminologias.

A definição de literatura digital/eletrônica deve levar em consideração o fato de que ela não se restringe a um gênero literário, a um estilo ou a um tipo de texto. Se tais elementos são importantes para a sua caracterização, igualmente imprescindíveis são os aspectos relacionados à materialidade dos textos e dos ambientes em que se inscrevem, seus modos de circulação e as relações entre os produtores, os consumidores, as instituições e o mercado, todos insertos no contexto da digitalidade. A literatura digital/eletrônica caracteriza-se por sua natureza limiar e experimental, o que exige uma abordagem multidisciplinar para sua compreensão.

As definições que se foram estabelecendo variam conforme a região geográfica e o período histórico. No contexto norte-americano, utiliza-se o termo “literatura eletrônica”, que se consolidou a partir da fundação da Electronic Literature Organization (ELO), em 1999, a fim de descrever obras com “um aspecto literário importante que aproveita as capacidades e contextos fornecidos por um computador independente ou em rede” (Hayles, 2009, p. 21). 

No Brasil, o termo literatura eletrônica, popularizado graças à tradução do livro de Katherine Hayles, Literatura eletrônica: novos horizontes para o literário, em 2009, convive com o termo literatura digital, mais frequente em estudos latino-americanos a respeito do assunto. Apesar de os adjetivos eletrônico e digital não serem sinônimos do ponto de vista técnico (posto que um dispositivo eletrônico pode ser digital ou analógico, a depender do formato de seus dados e dos processos de transmissão), ambos os termos, quando designativos de literatura, são usados hoje para caracterizar uma produção literária que pressupõe a experimentação com a linguagem de programação e/ou com os meios digitais, resultando em textos frequentemente não lineares, transmídias ou multimídias.

A literatura digital/eletrônica que se tem produzido recentemente, tirando proveito das potencialidades e fazendo frente às dificuldades impostas pelas plataformas digitais – sobretudo as redes sociais – impõe questões à definição corrente de literatura digital, pautada, como já se mencionou, no experimentalismo. Se ainda não há consenso a respeito do quanto as textualidades que são produzidas nesses ambientes plataformizados massivos podem ser consideradas como literatura digital/eletrônica, o exame do fenômeno é relevante, especialmente em países na periferia do desenvolvimento tecnológico, onde o acesso desigual a equipamentos e à educação digital limita o pleno reconhecimento da produção literária digital dessas regiões.

Outros termos designativos do mesmo campo literário, com menor circulação atualmente nos meios acadêmicos ou artísticos, incluem ciberliteratura, infoliteratura, literatura cibernética, e-literatura e literatura computacional.

COMO CITAR ESTE VERBETE:

CATRÓPA, Andréa; PEREIRA, Vinícius Carvalho; ROCHA, Rejane. In: CATRÓPA, Andréa; PEREIRA, Vinícius Carvalho; ROCHA, Rejane (Org.). Glossário LITDIGBR – Literatura Digital Brasileira. 2025. Disponível em: https://glossariolitdigbr.com.br/arte-digital/ Acesso em: dia/mês/ano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FUNDAMENTAIS

Nesse verbete, a autora discorre a respeito da literatura eletrônica/digital, chamando a atenção para as diferentes definições, sua relação com os momentos históricos e/ou contextos regionais em que foram produzidas.

No artigo, Leonardo Flores revê as gerações de literatura digital propostas por Katherine Hayles, propondo uma terceira geração de obras, produzidas em ambientes digitais plataformizados e submetidos à lógica algorítmica.

O livro influenciou enormemente os estudos de literatura digital/eletrônica no Brasil. Embora a caracterização de gêneros proposta pela autora se aplique pouco à produção brasileira, trata-se de referência incontornável na área.

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