Glossário LITDIGBR

DISTANT READING

Emanoel Pires e

Marcus Vinícius Correa

A leitura distante (distant reading) é um modo de estudo da literatura que utiliza dados quantitativos e ferramentas digitais para analisar grandes volumes de textos, identificando padrões que não seriam percebidos em uma leitura tradicional. Proposta por Franco Moretti, essa metodologia complementa a leitura aproximada (close reading), unindo a análise interpretativa com o uso de gráficos e estatísticas.

A leitura distante (distant reading) se configura como um modo de estudo da literatura que, em explicação simplificada, inclui números, gráficos e estatísticas para verificar determinados fenômenos em uma grande quantidade de textos. Sendo assim, tal proposta de estudo se diferencia da tradicional e conhecida close reading (leitura aproximada) – que possui uma abordagem mais humanístico-interpretativa – pelo enfoque metodológico que privilegia a busca por padrões em um conjunto de textos que, pela sua extensão, não poderia ser lido facilmente linha por linha. 

É pensando nisso que Franco Moretti (2000, 2008) propõe que aprendamos a “não ler” os textos; ou seja, é preciso encarar o sistema literário, também, com um olhar macro, desafiando, inclusive, o cânone e trazendo para as discussões obras esquecidas ou marginalizadas pela crítica. 

Com isso, os aparatos tecnológicos são imprescindíveis para a abordagem indicada por Moretti e, nesse sentido, é básico que os textos também estejam disponíveis em ambiente digital e formatados obedecendo às regras de cada programa. Sistemas como a Linguateca  e o Voyant tools, por exemplo, fornecem informações distintas sobre os textos analisados e, sem sombra de dúvidas, visões teóricas e epistemológicas sobre as obras processadas.  

Ao abordar o texto dessa forma, o pesquisador teria um distanciamento do texto enquanto tal, daí o adjetivo distante, e perceberia os seus padrões comparativamente, o que não seria possível com a leitura de texto por texto, considerando que o corpus seja formado por muitas obras a serem analisadas.

Engana-se quem pensa que distant e close readings se opõem. Elas, na verdade, se complementam. Os dados fornecidos pela leitura distante devem, para fazer sentido, ser aprofundados interpretativamente por meio da leitura aproximada. Gráficos e tabelas, sem contextualização e análise dos dados, não dizem mais do que o que está na superfície. 

Nesse sentido, observa-se que a distant reading se configura, para além de um método de análise de textos, como uma possibilidade de realização de ambiciosas sistematizações de certos aspectos existentes nas produções literárias com as quais se queira trabalhar. Com isso, é possível afirmar que a leitura distante é um método de análise que alia a reflexão sobre a literatura com os aparatos digitais e o uso de números, tabelas e gráficos, comuns às ditas ciências duras, fazendo com que a análise da literatura parta de outros pontos de vista e, consequentemente, chegue a conclusões possibilitadas, em grande medida, por um distanciamento do texto e pela adição de outras perspectivas. 

COMO CITAR ESTE VERBETE:

PIRES, Emanoel; CORREA, Marcus Vinicius. Distant reading. In: CATRÓPA, Andréa; PEREIRA, Vinícius Carvalho; ROCHA, Rejane (Org.). Glossário LITDIGBR – Literatura Digital Brasileira. 2025. Disponível em: https://glossariolitdigbr.com.br/distant-reading/ Acesso em: dia/mês/ano.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FUNDAMENTAIS

Obra de relevo do autor, na qual apresenta de forma mais sistematizada o processo de estudos a partir da distant reading, bem como enfatiza a pertinência de suas teorizações e exemplifica como isso pode ser feito, analisando fenômenos de obras de diferentes países.

Em tal escrito, o autor explora como a análise computacional pode ajudar a revelar padrões históricos e estéticos em obras literárias que a leitura individual não deixa ver. 

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