O blog é um artefato cultural e comunicativo caracterizado por sua estrutura particular e versatilidade funcional. A palavra “weblog”, que originou o termo, foi criada em 1997 por Jorn Barger para designar sites que agregavam e compartilhavam links interessantes encontrados na internet. Inicialmente, seu formato não diferia significativamente de outros sites da época, razão pela qual alguns consideram o primeiro blog o site criado por Tim Berners-Lee para listar páginas emergentes na nascente World Wide Web (WWW).

Com o advento de ferramentas como o Blogger, lançado em 1999 e popularizado ao ser adquirido pelo Google em 2003, o blog se tornou amplamente acessível. Essas plataformas possibilitavam que pessoas sem conhecimento técnico de programação criassem e mantivessem seus próprios sites, inaugurando uma das características centrais da chamada web 2.0: a democratização da produção de conteúdo. Essa transformação, definida por André Lemos como “liberação do polo de emissão”, conferiu aos blogs um papel revolucionário em áreas como jornalismo, educação, política e cultura, permitindo que vozes antes excluídas dos meios tradicionais de comunicação ocupassem novos territórios no ciberespaço.

Conforme a definição estrutural proposta por Schmidt (apud Amaral, Recuero e Montardo, 2008), o blog é um site regularmente atualizado, cujos conteúdos são organizados em ordem cronológica reversa e identificados por URLs únicas, frequentemente com a possibilidade de interação por meio de comentários. Tal organização temporal favoreceu sua apropriação como diário pessoal virtual, um uso emblemático que contribuiu para a percepção do blog como espaço de expressão individual.

Entretanto, o blog transcende sua estrutura inicial. Ele é um meio de comunicação e um espaço de sociabilidade, capaz de constituir redes sociais e funcionar como repositório das marcações culturais de grupos e comunidades específicas no ciberespaço. Além disso, ele é apropriado e adaptado para diversas finalidades: desde a disseminação de opiniões e informações jornalísticas até a criação de redes de afinidade e o compartilhamento de narrativas pessoais.

No Brasil, o blog desempenhou um papel importante no campo literário. Muitos autores estreantes utilizaram blogs para divulgar textos que não encontravam espaço em editoras tradicionais, iniciando carreiras que posteriormente migrariam para o universo impresso. Assim, o blog exemplifica a convergência entre tecnologia, cultura e comunicação, destacando-se como ferramenta e artefato que transformou profundamente as formas de produção e circulação de conteúdo na era digital.

Após o surgimento e incrível popularização das redes sociais e das lógicas algorítmicas em tempos de digitalidade, a blogosfera se retraiu e muitas das práticas textuais que encontravam ali espaço migraram para outros locais, como os feeds e murais, o que permite observar, também, o modo como a estrutura e a forma desses espaços conformam os textos que neles circulam.

Abaixo, alguns títulos de blogs bastante populares durante a primeira década dos anos 2000. Alguns deles possuem registros que podem ser acessados por meio da wayback machine:

O Biscoito Fino e a Massa.
Autor: Idelber Avelar.

Digestivo Cultural.
Autor: Julio Daio Borges.

Blog do Galeno.
Autor: Galeno Amorim.

Sempre um Papo Blog.
Autor: A equipe do Sempre um Papo, idealizada por Afonso Borges.

Overmundo.
Autores: Colaborativo, mas os editores incluíam nomes como Hermano Vianna e Ronaldo Lemos.

Todoprosa.
Autor: Sérgio Rodrigues.

Submarino Amarelo.
Autor: Mario Bortolotto.

O homem que calculava.
Autor: Nelson de Oliveira.