A literatura é essencial na educação, mas a literatura digital ainda luta por reconhecimento nas escolas. Obstáculos incluem a visão ambivalente sobre tecnologia, a falta de competência digital dos professores e a infraestrutura inadequada. Superar esses desafios exige reconhecer a literatura digital como vital para a formação crítica dos estudantes no mundo digital.
A literatura é um inquestionável objeto de ensino na educação escolar, amplamente justificado por ser um conhecimento essencial à formação humana, como importante via de entrada na cultura escrita e, em diferentes momentos da história, como experiência indispensável para a construção da identidade, tanto de um indivíduo, como de um povo. No entanto, a literatura digital, essa filha jovem que ainda luta para ser reconhecida como um sistema artístico legítimo, padece de um fraco interesse pela sua presença na escola. Para que isso se transforme, é necessário reconhecê-la como fonte de um conhecimento e de uma experiência necessários à participação (crítica) dos estudantes no mundo simbólico que as tecnologias digitais engendram por meio das emergentes produções culturais e das interações sociais que ocorrem no ciberespaço. Podemos citar diversos obstáculos à inserção da literatura digital nos currículos escolares, entre eles a ambivalente perspectiva com que se olha a relação entre crianças e jovens e os dispositivos digitais: como um risco ao seu desenvolvimento pleno e, paradoxalmente, como via insubstituível de acesso à produção de conhecimento atual. Ainda há outros desafios, como o problema geracional, pois a maioria dos professores e professoras pertence a uma geração menos competente digitalmente, muitas vezes menos do que os próprios alunos, e as condições materiais de grande parte das escolas, que não dispõem de equipamentos e de recursos para aquisição de obras para além de livros digitalizados. Além disso, há a própria característica das obras, que têm um modo de circulação e um tempo de sobrevivência diferentes da literatura impressa e, por isso, exigem um certo esforço para possibilitar o acesso e o intercâmbio entre os leitores, bem como a leitura compartilhada em sala de aula. No entanto, o maior obstáculo é, sem dúvida, o grande desconhecimento das possibilidades e das características da literatura digital e do seu amplo e diversificado conjunto de obras, que abrange diferentes gêneros e formatos. Na última década, muitos pesquisadores têm se empenhado em discutir caminhos para a entrada da literatura digital em sala de aula, desde a Educação Infantil ao Ensino Médio, por meio de estudos que exploram suas características e buscam refletir sobre os caminhos para uma educação literária que inclua a leitura digital como uma prática potencializadora de experiências estéticas relevantes para os sujeitos em formação. Nesse sentido, o ensino da literatura digital demanda reflexões sobre como os docentes podem abordar aspectos de sua constituição como a multimodalidade, a hiper- e a multimidialidade, a interatividade, entre outros aspectos que a diferenciam da literatura tradicional, sem perder de vista seu potencial poético para expressar e narrar experiências, sentimentos e anseios humanos de forma sensível e criativa.
COMO CITAR ESTE VERBETE:
LIMA, Giselly. Ensino. In: CATRÓPA, Andrea; PEREIRA, Vinícius Carvalho; ROCHA, Rejane (orgs.). Glossário – LITDIGBR – Literatura Digital Brasileira. 2025. Disponível em: https://glossariolitdigbr.com.br/ensino/ Acesso em: dia/mês/ano.
Dossiê temático com seleção de artigos originalmente apresentados no Colóquio Internacional “Ensino da Literatura Digital”, organizado pelo Programa de Doutoramento em Materialidades da Literatura e pelo Centro de Literatura Portuguesa na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em julho de 2019. Os textos abordam as especificidades da literatura eletrônica, exploram os problemas de sua definição, bem como suas potencialidades estéticas e desafios quanto à sua inserção na educação escolar, além de explorar seu horizonte de subsistência em face dos novos modos de circulação, de novas bases para sua fruição e acesso, e de um novo sistema de autoria-público.
O artigo é um dos resultados parciais do projeto Formando a los lectores del S. XXI: literatura digital y nuevos dispositivos didácticos para ampliar la respuesta lectora en contexto escola, desenvolvido de 2020 a 2024 pelo Grupo de Estudios y Investigación en Literatura Infantil y Juvenil e Educación Literaria – GRETEL, da Universidade Autônoma de Barcelona. O trabalho apresenta uma análise das estratégias, com enfoque na multimodalidade, utilizadas pelos docentes-pesquisadores do projeto para ler e interpretar obras de literatura e ficção digital durante sessões de elaboração de dispositivos didáticos para sua inserção em sala de aula.
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