A literatura generativa é criada por máquinas com diversos níveis de autonomia, com raízes em práticas experimentais do século XX e procedimentos permutacionais presentes em obras do passado. Essa forma de literatura questiona conceitos como autoria, expressão e os limites do ato criativo humano, desafiando o entendimento tradicional sobre a literatura.
A literatura generativa é aquela produzida por uma máquina com maior ou menor grau de autonomia, isto é, maior ou menor grau de interação humana. Historicamente, podemos traçar uma genealogia da literatura generativa em obras impressas dos séculos XV ao XVIII que se utilizavam de procedimentos permutacionais, como os labirintos seiscentistas ou outras produções visuais. Tratava-se de obras em que todas as palavras e versos estavam redigidos, porém o que era recebido no ato de leitura variava materialmente diante de escolhas do leitor. Mais recentemente, a produção generativa computacional tem como pano de fundo as práticas vanguardistas do século XX que, com propostas diversas, pretendiam um grau de dessubjetivação do ato criativo (p.ex: o Surrealismo com seu cadavre exquis, o Dadaísmo com a proposta de versos aleatórios tirados de um chapéu de Tristan Tzara, os experimentos com o I Ching de John Cage, o OuLiPo com a produção de regras formais – contraintes – para o ato criativo, os procedimentos permutacionais dos escritores ligados à revista Po-Ex). No âmbito da teoria literária, autores ligados ao Estruturalismo e ao Pós-estruturalismo mostraram interesse por esta problemática retomando noções de Ferdinand de Saussure no que concerne ao caráter permutacional em eixos sintagmático e paradigmático da linguagem.
De um modo geral, a produção literária generativa tendeu a perder força a partir do final dos anos 1980. Foi com os atuais avanços na implementação e acesso a programas de Inteligência Artificial e a possibilidade de produzir textos coerentes com alto grau de autonomia, que vieram à tona novamente questões relacionadas à literatura generativa com relação ao limite do humano e da primazia humana/humanística do literário, problematizando o que compreendemos por literatura, expressão, autor, entre outros conceitos fundamentais aos estudos literários.
COMO CITAR ESTE VERBETE:
TAVARES, Otávio Guimarães. Literatura Generativa. In: CATRÓPA, Andrea; PEREIRA, Vinícius Carvalho; ROCHA, Rejane (orgs.). Glossário – LITDIGBR – Literatura Digital Brasileira. 2025. Disponível em: https://glossariolitdigbr.com.br/literatura-generativa/ Acesso em: dia/mês/ano.
O livro de Funkhouser apresenta um excelente panorama histórico de obras e tendências de literaturas generativas e suas especificidades, dentro do contexto amplo da literatura digital ou literatura produzida em computadores (tendo especial atenção às primeiras tentativas de operacionalizar este tipo de produção).
O capítulo de Otávio Tavares aborda as questões e as implicações teóricas da possibilidade de uma máquina produzir um texto literário, com foco especial na noção de expressão.
O artigo de Vinícius Carvalho Pereira aborda questões centrais ao OuLiPo no que tange à relação entre regras e produção literária, sobretudo ao conceito de jogo, fundamental para a produção generativa.
Labirinto de versos a modo de jogo de xadrez. Encontrado em “Arte poética española: con una fertilísima Silva de consonantes comunes, proprios, esdruxulos, y reflexos, y un divino estimulo de el amor de Dios / su autor Juan Diaz Rengifo, natural de Avila”.
Exemplo de labirinto poético em que a escolha da formação dos versos depende de escolhas materiais do leitor.
Versão arquivada do gerador de textos de Pedro Barbosa. O Arquivo Digital da PO.EX contém uma série de exemplos de diferentes geradores de texto, como também obras de E. M. de Melo e Castro, que experimentou profundamente com procedimentos permutativos em seus versos impressos.
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