As histórias em quadrinhos são uma linguagem artística autônoma que, tal como argumentou o quadrinista e teórico Will Eisner (2015), combina as regências da literatura – ou seja, o texto verbal – com as das artes plásticas – isso é, as formas, cores e linhas. A humanidade sempre se valeu de imagens para construir narrativas; no entanto, costuma-se dizer que a gênese dos quadrinhos tal como os entendemos se deu no século XIX, com pequenas histórias contadas com imagens em periódicos da época, feitas por nomes como o suíço Rodolphe Töpffer e o ítalo-brasileiro Angelo Agostini. Grande parte das convenções da linguagem dos quadrinhos, como o uso de balões de fala e a divisão da narrativa em quadros organizados em sequência, está intrinsecamente ligada às possibilidades (e limitações) do suporte impresso. No entanto, conforme novas tecnologias tornam-se disponíveis para autores e leitores, com destaque para os computadores e internet de uso doméstico a partir da década de 1980, uma nova possibilidade criativa surge para a chamada nona arte. 

Assim, temos o surgimento dos quadrinhos eletrônicos – ou HQtrônicas, neologismo cunhado pelo pesquisador goiano Edgar Franco (2013) para designar obras em quadrinhos que combinassem um ou mais elementos dos quadrinhos impressos com uma ou mais possibilidades do meio digital, tais como o uso da interatividade, a exploração da tela infinita e a incorporação de diferentes mídias, como som e vídeo. O resultado é uma obra hipertextual e experimental. 

HQtrônicas, no entanto, representam apenas uma parcela das produções em quadrinhos em formato digital. Nem toda HQ lida ou publicada em tela é, ou pretende ser, uma obra hipertextual; muitas são apenas uma transposição das convenções do suporte impresso para o suporte eletrônico. 

Nesse contexto, destacam-se as webcomics. A palavra inglesa web nos aponta qual ambiente digital seria o desejável para publicação e leitura desse tipo de quadrinhos: a internet. Chamamos de webcomics os quadrinhos produzidos e lidos digitalmente, o que exclui, por exemplo, meras digitalizações de HQs produzidas e publicadas “analogicamente”. Assim, o termo contemplaria apenas quadrinhos feitos, publicados e lidos em contexto digital e online. Uma webcomic pode apresentar características hipertextuais – ou seja, ser uma HQtrônica – mas isso não é uma característica que as define.  

Atualmente, é possível encontrar webcomics publicadas em domínios próprios de artistas, em blogs e em redes sociais digitais. Podem ser obras curtas, no formato popularmente conhecido como tira cômica, ou podem ser narrativas mais longas e complexas, com diversos capítulos. Trata-se assim de uma espécie de termo guarda-chuva para narrativas em quadrinhos encontradas na internet, independente de seu tamanho, temática ou local de publicação.